Milão é uma grande cidade, esplendida e, por vezes, cheia de interesse mas como para mim está por demais associada ao trabalho, aproveito sempre o tempo livre para me escapar pela Itália fora ou, neste caso, para a Suiça, que está a pouco mais de uma hora de comboio. Estava bastante curioso em relação ao que iria encontrar em Lugano e confesso que fiquei logo agradávelmente surpreendido e por demais convencido, apenas com o trajecto do comboio, paralelo aos grandes lagos encaixados nas montanhas.
À chegada torna-se óbvia a influência italiana no local. Todos falam italiano e apesar da moeda corrente ser o franco, na maior parte dos estabelecimentos aceitam-se euros. Troco algum dinheiro e apanho uma espécie de teleférico, que aqui é um transporte bastante comum, aconselhado de sobre-maneira para vencer os fortes declives do terreno. Neste caso, foi para descer até ao lago, numa viagem alucinante de dois minutos mas, o que importa? Se é para visitar é a sério: há que fazer como os outros turistas.
Desço, já a pé, uma ou duas ruas e encontro o grande lago que banha a cidade, de seu nome Ceresio. Esta, cresce em direcção aos topos que rodeiam o lago, até que o declive o permita. As ruas encontram-se impecavelmente limpas (influência dos suiços mais a norte claro), os jardins estão muito bem tratados e água limpissíma. O tempo, para ajudar, está quente, o que proporciona imediatamente a prática de actividades lúdicas como o mergulho ou a descida de cerveja fresquinha. Porém, antes de me dedicar às referidas convém bater o terreno, o que passa essencialmente por percorrer a extensa marginal e apanhar um outro teleférico para um dos topos. Esta é uma experiência bastante suis generis, uma vez que aqui o declive é terrivelmente acentuado e a viagem ainda demora os seus quinze ou vinte minutos, sempre a subir. E vale mesmo a pena. As panorâmicas deste pico são excelentes e permitem uma visão de 360 graus sobre a envolvente. Os lagos, os contornos da cidade, as povoações vizinhas e mais ao fundo as montanhas a que associamos os verdadeiros Alpes, com neve permanente nos cumes. Correndo o risco de me chamarem mentiroso, diria que neste ponto, o desnível em relação ao lago será de quase mil metros. Tiro as fotografias da praxe e é tempo de fazer o caminho inverso, descendo novamente à cidade. O nível de vida aqui é claramente acima da média europeia, quiçá de Portugal, tendo em conta o aspecto luxuoso de muitos edificios, os carros, os barcos e a quantidade de senhoras de meia idade a fazer jogging. Faço mais uma vez a marginal até aos luxuriantes jardins de Lugano, comunicantes com uma espécie de praia fluvial, onde finalmente posso experimentar a água, que para meu espanto se encontrava quente.
Este é mais um local a juntar a outros onde eu acho que podia viver muito bem. Um dia, quando tiver dinheiro no mealheiro para o Ferrari e para o iate mudo-me para aqui. Talvez.