terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Lago de Bezima

Mantendo a senda das viagens ao passado recente do início de Novembro, segue o relato do meu “pequeno” desvio ao lago salgado de Bezima. Este oásis localiza-se a cerca de 130 km a SE de Tazirbu, uma pequena localidade bastante a sul na Líbia, a aproximadamente 300 km a oeste da fronteira com o Egipto. O que se pode acrescentar acerca da minha viagem até ao destino transborda num nada de areia e planura, que ficaram retidas na minha memória de manhã de alvorada após uma noite mal dormida. Nota apenas para uma pequena paragem num sítio de interesse arqueológico já bastante próximo do lago: um antigo cemitério da tribo Tubu (penso que se tratam de tuaregues berberes… e penso que se chamam Tubus). Ao que me foi dado a entender, esta tribo usava o material-rocha alóctone de maiores dimensões para cobrir os jazigos familiares. De resto, a elevação rochosa que se avista deste local parece bem mais interessante e adivinha a localização do dito lago onde eu pensava que ia mandar um mergulho (até me comunicarem que se tratava de um lago salgado e que não era boa ideia).

A nossa chegada é sorrateira e cautelosa. O jipe diminui drasticamente a velocidade por um trilho de areia que se inicia pedregoso, desenhando-se até a uma pequena povoação que só mais tarde me apercebo que está deserta. Trata-se de uma autêntica cidade fantasma. A população havia abandonado o oásis há cerca de 20 ou 30 anos atrás devido à descida do nível freático, que tornou mais difícil a sobrevivência naquele local. O jipe continua a rolar pelo empedrado e evita o horizonte de areia decorado com palmeiras, virando para norte em direcção ao cume do maciço rochoso. Após curvas e contracurvas trepando pela rocha que se avizinha cada vez mais crua, somos forçados a parar, ainda muito longe do cume mas a uma altura considerável da base, de onde é possível ter a devida panorâmica do local. O lago parece-me uma extensa meia-lua repleta de cristais de sal, com umas palmeiras semi-despidas a enfeitar o limite do que resta da água. No entanto, abrindo melhor a pestana que estava um bocado pregada nesse dia e aligeirando ainda mais o humor que também não era o mais famoso, descubro passo a passo e pouco a pouco, a beleza invulgar deste oásis no deserto. Estou rodeado por areia em todas as direcções por largas dezenas de quilómetros e este local é um misto de verde palmeira, água e relevo rochoso.

É sem duvida uma grande quebra na monotonia, que acaba por ser realmente quebrada quando avistamos ao longe uma caravana de quatro ou cinco jipes com destino semelhante ao nosso. Tendo em conta que não estamos assim tão longe da fronteira com o Chade poderiam tratar-se de perigosos traficantes de qualquer coisa ou apenas de uma patrulha do exército (a patrulhar qualquer coisa). Num ou noutro caso, e confiantes que estaríamos na presença das mais ilustres e simpáticas visitas, a nossa reacção foi enfiarmo-nos novamente no jipe e descer para o extenso mar de palmeiras onde á partida teríamos uma certa cobertura e poderíamos admirar mais de perto as palmeiras, o lago, as tâmaras e tudo o demais. Minutos mais tarde avistamos um dos jipes da dita caravana que passa por nós repleto de turistas alemães sorridentes, a viver o sonho do sahara. Os ocupantes do jipe seguinte não partilham o mesmo estado de euforia: enquanto que um senhor de meia-idade acelera a fundo o jipe, ficando cada vez mais enterrado na areia, a sua esposa tenta cavar a areia e empurrar o veículo sem o mais pequeno sucesso. O senhor teima em acelerar a fundo, o que deixa a primeira bastante agastada (ela verbaliza aliás coisas que suponho que fossem pouco agradáveis). Isto dura alguns minutos, deixando finalmente de ter graça, e lá resolvemos ajudar os senhores a retirar o chassis da areia e a esvaziar um pouco os pneus. Depois, de duas ou três tentativas o jipe arranca pouco a pouco e depois a toda a velocidade, deixando porém a cansada turista para trás, para uma pequena caminhada até terreno mais firme.

Despedimo-nos e entramos também nós no nosso jipe, fazendo uma última paragem no posto de turismo deste oásis, que até é bem catita, com umas palhotas engraçadíssimas em torno de um telheiro. Este é também o mote para o nosso regresso ao rig, que afinal ainda não estava no local e me deixaria com mais uns dois dias livres.









domingo, 21 de dezembro de 2008

Leptis Magna

Na minha anterior visita a Sabratha no verão passado, confesso que fiquei ansioso pela oportunidade de conhecer a que se dizia já ter sido a mais imponente cidade romana do norte de África: Leptis Magna. As ruínas, da também chamada de Lebda na Líbia, encontram-se na parte leste e litoral da cidade de Al-Khums, a cerca de 130 km a leste de Tripoli. Não é apenas recomendável, esta visita é obrigatória: estando em Tripoli basta ter um dia livre e pela manhã dirigir-se à zona dos Five Towers Buildings. Nesse local, entre outros salamaleques, é necessário perguntar e tentar encontrar os mini-bus ou carrinhas que se dirigem a Al-Khums. É fácil e barato. Para os mais comodistas ou se for com um grupo de pessoas (ou em ambos os casos, onde eu aliás me insiro), é possível alugar um maxi-taxi apenas para esta viagem e a de regresso, o que para o padrão económico português continua a ser bastante acessível. No meu caso, o senhor motorista fez questão de esperar no local até as 16h30 da tarde, hora do nosso regresso a Tripoli.

Mas, falando de Leptis Magna. A cidade, passou por vários episódios de prosperidade e destruição, tendo interesses e importâncias diferentes conforme o povo que a ocupou. Pensa-se que tenha sido fundada pelos fenícios em cerca de 1100 a.C. atingindo grande importância com os cartagineses em 400 a.C., em especial durante as guerras púnicas, até que foi anexada pela república romana em 146 a.C.
Durante o governo do imperador Tiberius, a cidade transforma-se na terceira mais importante da província romana de África, atingindo o seu auge com Septimus Severus que grandemente favoreceu e enriqueceu a cidade da qual ele era natural. Os mármores e ricas colunas e adornos que por lá se observam são deste período. O declínio do império romano dita que em meados do século IV d.C. a cidade já se encontrasse parcialmente desocupada, quando esta passa a pertencer ao Reino dos Vândalos.
Sabe-se que no ano de 523 os Berberes saquearam e destruíram parte da cidade e que após cerca de 10 anos o Reino dos Vândalos no norte de África cessa a sua existência, passando Leptis Magna a capital de província da Tripolitânia do império Bizantino.

Apesar da cidade se ter parcialmente reabilitado durante esta ocupação, inicia novamente uma fase de declínio que termina em 650 d.C. com a invasão árabe de todo o norte de África. Leptis Magna é então abandonada até ás escavações que pouco a pouca a trazem até á superfície desde de 1920. É considerada património mundial pela UNESCO e possui, além do perímetro de ruínas, um museu, que acompanha a história da região em esculturas e outros artefactos, desde os fenícios aos árabes, com principal ascendente e representação do império romano. Na Líbia, felizmente, não há só areia e petróleo.


















sábado, 20 de dezembro de 2008

Outono em Tripoli

No inicio de Novembro andei a passear por Tripoli novamente. A Medina é sem dúvida o maior atractivo da cidade porque, de resto, encontro poucos motivos para retirar a máquina fotográfica do bolso. Não é que a cidade não tenha a sua história e costumes; o que afinal transparece é a minha falta de interesse em conhecer mais do que já vi. Bem vistas as coisas, tenho andado a desiludir-me cada vez mais com esta terra. Se me perguntarem se Tripoli é um bom destino turístico direi que sim, mas sobretudo pelos desertos e arredores (agora lá voltar já é outra conversa)...





sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Regresso às aulas (antes do regresso ao Sahara)

A minha (ainda) actual vida de viagens em busca do ouro negro permite-me apreciar agora ainda mais os meus passeios pelo Portugal além Lisboa. Desta vez, foi o meu regresso às aulas que me proporcionou uma visita a Borba, onde já não ia talvez há três anos. Curiosa e particularmente interessante foi a visita a um dos locais de extracção de mármore da região: a pedreira do texugo. O mármore daqui extraído encontra-se estratigráficamente associada à Formação Vulcano-Sedimentar de Estremoz. Esta última, encontra-se separada da formação dolomítica que lhe precede por um nível silico-ferruginoso descontinuo que se supõe equivaler à discordância estratigráfica que faria contactar os terrenos câmbricos com o Ordovícico. A formação é constituída por metavulcanitos ácidos e básicos e por tufitos, além de extensos depósitos carbonatados: os Mármores de Estremoz. Estes são calcários cristalinos metamorfisados pouco xistificados, de grão médio, e calcoxistos, apresentando por vezes alguma dolomitização. A formação apresenta por vezes espessuras superiores a 200 metros e encontra-se numa região intensamente tectonizada, tendo sofrido a acção de várias fases da orogenia hercínica. A estrutura base é um grande antiforma – o anticlinal de Estremoz – que se encontra orientado segundo a direcção NW-SE, com vergência para Nordeste. Além do dobramento intenso das formações, estas são afectadas por xistosidades, clivagens e por um largo conjunto de famílias de falhas e diáclases. Todas estas características e/ou condicionantes são importantes no apoio à decisão de exploração. Neste caso, é assumidamente mista, ou seja, apresenta uma fase extractiva a céu aberto e uma outra subterrânea.
Dado o avanço na remoção de material e razões de carácter económico, decidiu-se iniciar um processo de exploração subterrâneo, com recurso ao dimensionamento de pilares naturais para suporte dos tectos da área de escavação. Chama-se a isto a metodologia de desmonte por câmaras e pilares e consiste basicamente no desmonte de rocha, deixando intactas determinadas áreas da jazidas que servem de suporte do terreno suprajacente.

domingo, 21 de setembro de 2008

Sabratha

Durante grande parte de sua história, a Líbia foi povoada por árabes e berberes. Contudo, os Fenícios e gregos chegaram ao país no século VII a.C. e estabeleceram aí colónias e cidades. Os fenícios fixaram-se na região oeste designada por Tripolitânia (Tri-polis, ou seja três cidades; refere-se especificamente ao triangulo definido por Sabratha, Leptis Magna e Oia) e os gregos na região este Cirenaica. Os cartagineses, herdeiros das colónias fenícias, fundaram na Tripolitânia uma província, e no século I a.C. o Império Romano impôs-se em toda a região, deixando monumentos admiráveis. A Líbia permaneceu como província romana até ser conquistada pelos vândalos em 455 d.C. Após ser reconquistada pelo Império bizantino, continuador do romano, a região passou a ser dominada pelos árabes em 643.

Para já, apenas visitei Sabratha. A cidade, que se situa a cerca de 80 quilómetros a oeste de Tripoli, foi um grande entreposto comercial no passado. Hoje, é considerada património mundial pela UNESCO, e chama a atenção em especial pelo imponente teatro romano que se encontra em excelente estado de conservação. Vale ainda a pena reconhecer a evolução ocupacional da cidade, que termina, em termos de edificado, com a ocupação bizantina, que não chegou a Portugal. Para terminar, é indispensável a toalha de praia e o calção de banho porque, convenhamos, depois de um dia a passear pelas ruínas com um sol de 40 e tal graus, não há nada melhor que um mergulho no mediterrâneo, que realmente esta mesmo ali ao lado.





Esta ultima fotografia mostra um dos muitos nascer do sol a que assisti no deserto (já que foram tantos, tinha que deixar aqui pelo menos um).

sábado, 23 de agosto de 2008

Nesta ultima semana

Domingo passado viajei de novo para Tripoli, na Libia, onde ainda actualmente me encontro. Confesso que esta situacao de chegar e nao ir logo a correr para o meio do deserto nao e assim tao ma. Tenho feito um pouco de turismo que para ja, inclui praia no mediterraneo (onde nadei numa agua mesmo quente) e umas ruinas de uma antiga cidade romana (onde tirei umas fotografias engracadas, que serao publicadas talvez daqui a um mes).
Por hoje, deixo apenas qualquer coisa de que gostei no local do meu ultimo jantar, em Tripoli.

Portanto, a esplanada do restaurante onde jantei tinha esta vista.


As fotografias foram um pouco tiradas a pressa mas achei interessante publicar aqui qualquer coisa diferente da Libia. Sim, os romanos andaram mesmo por aqui ha uns anos...