segunda-feira, 21 de abril de 2014

Entrevista do SOL ao presidente da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira

A Lusofonia permitiu que a Galp entrasse nos maiores projectos mundiais de energia: «Estávamos no sítio certo na hora certa, porque nunca nos afastámos», diz ao SOL o presidente da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira, que ainda acredita nas reservas de petróleo no Alentejo e em Peniche.
 
A Galp Energia está a transformar-se numa empresa focada na exploração e produção de petróleo. Quando estará concluída esta mudança?
A materialização desse objectivo é clara quando prestamos contas ao mercado, mas tornar-se-á evidente e irreversível com o aproximar da viragem da década.
 
O que mudou em concreto?
Há projectos transformacionais em curso - com recursos geológicos identificados, planos de desenvolvimento definidos e financiamento assegurado - para que a nossa produção passe dos actuais 28 mil barris diários para cerca de 300 mil barris em 2020. Ou seja, mais de 10 vezes a produção actual. Estamos a crescer a um ritmo que não tem par na indústria petrolífera.
 
A empresa actualizou em Março o seu plano de investimentos. Que projectos estruturantes merecem destaque?
Os projectos principais, aqueles que permitirão concretizar a nossa visão, são essencialmente os de exploração e produção de petróleo no pré-sal da Bacia de Santos, no Brasil; o desenvolvimento das grandes reservas de gás natural que efectuámos ao largo da Bacia do Rovuma, em Moçambique; e a dinamização de novos projectos em Angola. Para termos participações relevantes em projectos como estes - que estão entre os mais aliciantes em curso no sector petrolífero a nível mundial - estamos obrigados a um rigor e a uma disciplina de enorme responsabilidade.
 
Como é que se tornou possível participar nesses projectos?
O nosso foco natural é nos países de língua portuguesa. E foi precisamente aí que, nos últimos anos, se realizaram as maiores descobertas de petróleo e gás a nível mundial: no Brasil e em Moçambique, respectivamente. Tínhamos objectivos definidos e estávamos no local certo na hora certa, porque nunca nos afastámos.
 
A indústria energética é uma oportunidade para a Lusofonia?
Certamente que sim, não só pela Galp Energia, mas também por toda a comunidade lusófona, em particular no que se refere ao desenvolvimento de competências dos recursos humanos orientados para esta indústria. É preciso uma maior convergência de esforços entre universidades, instituições públicas e privadas e as empresas do sector para que esta oportunidade de desenvolvimento se materialize. Desperdiçá-la seria uma perda inexplicável para as gerações futuras.
 
A refinaria de Sines tem contribuído para o aumento das exportações. Como avalia os resultados do investimento?
Era um resultado que se esperava, embora a retracção do mercado interno tenha tornado mais expressivos os números das exportações por motivos menos positivos. O que podemos afirmar com toda a certeza é que, sem o investimento que fizemos, as duas refinarias não seriam hoje viáveis. Temos que estar cientes desta realidade na definição de políticas energéticas, tanto em Portugal como ao nível europeu.
 
Muita gente refere que a nova refinaria está perto da utilização máxima. A capacidade de refinação da Galp poderá aumentar por outra via?
Uma refinaria é um equipamento que funciona ininterruptamente, 24 horas por dia e 365 dias por ano, e qualquer aumento de capacidade terá que estar associado a novos investimentos. Foi o caso do projecto de conversão das nossas refinarias, o maior investimento industrial de sempre em Portugal. No actual contexto de mercado, dificilmente se poderiam justificar novos investimentos nesta área.
 
Os preços dos combustíveis são um tema sensível para os consumidores. Quais as perspectivas de médio-longo prazo?
O sector atravessa uma revolução que ninguém poderia ter previsto há bem pouco tempo e ainda não houve uma estabilização do novo quadro que permita prever o futuro com um mínimo de rigor. Há uma procura crescente de produtos petrolíferos por parte das economias emergentes, com a China e a Índia à cabeça. Mas não há aqui uma linearidade, uma vez que os EUA, por exemplo, que há bem pouco tempo eram o maior importador mundial de petróleo, hoje são exportadores de produtos petrolíferos. É impossível prever como evoluirão estes equilíbrios.
 
A balança energética do país é deficitária. Como poderá o país ultrapassar esta dificuldade?
A solução ideal seria descobrirmos reservas de petróleo em território nacional. E estamos a trabalhar activamente para isso no offshore das bacias sedimentares do Alentejo e de Peniche. É um projecto em que nos encontramos empenhados, mas em que o risco exige que as próximas fases de desenvolvimento sejam feitas em consórcio. Não vingando esse projecto, a melhor forma de nos protegermos é diversificar tanto quanto possível as nossas fontes de abastecimento energético. (in SOL)