segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Concessões de lítio decididas em concurso público

"Existem mais de 30 empresas e grupos que querem explorar o lítio em Portugal, mas terão de vencer as concessões em concurso público. Quem criar unidades industriais no país sairá beneficiado.

As diversas empresas, grupos e consórcios interessados na exploração de lítio em Portugal só o poderão fazer se se candidatarem aos concursos públicos, que deverão ser lançados para o efeito durante o presente ano. Essa é a principal alteração imposta pela resolução do Conselho de Ministros sobre esta matéria.

Entre as linhas de orientação estratégica para a fileira nacional do lítio consagradas nessa resolução, destaca-se a “dinamização de concursos públicos para a atribuição de licenças de prospeção e de pesquisa, bem como para a respetiva exploração, sobre áreas previamente delimitadas como relevando potencial e contendo alvos promissores (…)”.

Além de estabelecer regras mais rígidas através da realização destes concursos públicos – até ao momento, as sociedades que pretendiam arrancar com este tipo de explorações mineiras, faziam a respetiva comunicação às autoridades competentes, e aguardavam a respetiva resposta, sendo quase sempre aceites em função da ordem de entrada dos pedidos desde que cumprisse os requisitos legais – esta resolução do Conselho de Ministros estipula que os concorrentes avaliem as oportunidades de instalar em Portugal duas unidades tecnológicas, que poderão mesmo desembocar num investimento mais alargado por parte do(s) promotor(es) privado(s) em unidades produtoras de raiz em Portugal, seja de baterias de lítio, seja da área metalomecânica, por exemplo.

A primeira seria uma unidade experimental minero-metalúrgica, que seria suportada com o objetivo de desenvolver conhecimento e testara tecnologias para toda a cadeia de valorização dos recursos. Pretende-se também constituir uma unidade-piloto de demonstração, “de caráter declaradamente industrial, processando minérios ou concentrados de várias origens e destinada a avaliar os custos de produção em ambiente industrial.

O objetivo é integrar toda a cadeia de valor relacionada com os setores de produção onde é aplicado o lítio. O Governo está neste momento a estudar como irá majorar nos cadernos de encargos dos futuros concursos públicos esta possibilidade de investimento mais alargado, mais duradouro, com a criação de mais postos de trabalho.

Em última instância, o que se pretende é que a grande apetência existente neste momento pelo lítio permita a Portugal fomentar um cluster de atividade industrial, de processamento de minério, de produção nas diversas fileiras industriais que aproveitam este minério, e de I&D – Investigação & Desenvolvimento, de forma a criar mais-valias significativas para a economia nacional a partir desta oportunidade.

De acordo com os dados recolhidos pelo grupo de trabalho do lítio, cujas conclusões foram divulgadas no final do ano passado, existem cerca de uma dezena de locais com maiores probabilidades de rentabilidade de extração do lítio em Portugal, quase todos eles localizados a norte do Tejo.

A crescente atenção dos investidores internacionais para os depósitos nacionais de lítio – são mais de 30 os interessados, entre empresas nacionais e estrangeiras – está a acelerar o processo. Também os decisores estão cada vez mais atentos a este tema. No âmbito da estratégia de reforço da segurança e da independência energética europeia, realiza-se na próxima segunda-feira, dia 12 de fevereiro, em Bruxelas, uma reunião de alto nível com os Estados-membros interessados no desenvolvimento e produção de baterias, nomeadamente as baterias de lítio. Portugal vai fazer-se representar nesta cimeira por Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia.

Na agenda estará a discussão de projetos integrados, assim como a identificação e mobilização dos apoios necessários, em particular os fundos comunitários, para colocar em marcha este projeto, já discutido com várias empresas do Velho Continente. Nesta reunião magna será ainda aprofundado o papel de entidades públicas enquanto facilitadoras, através da criação de quadros regulatórios e não regulatórios para apoiar as medidas necessárias. Será uma oportunidade única para Jorge Seguro Sanches apresentar os seus trunfos com a apresentação da nova estratégia nacional integrada para o setor do lítio.

O “ouro branco” português

A importância deste metal é essencial pela sua utilização nas baterias dos veículos elétricos mas também na sua aplicação em várias indústrias, incluindo a cerâmica e o vidro, os lubrificantes industriais, aplicações médicas, baterias de iões-Li, siderurgia de alumínio, entre muitas outras.

O lítio (do grego ‘lithos’, que significa pedra), é também usado em aplicações industriais como vidro e cerâmica ou ligas metálicas – utilizadas em aeronaves, por exemplo. E mais: é um recurso na energia nuclear, actua como analgésico em operações de risco e marca presença em pastas dentífricas.

De acordo com as estatísticas do United States Geological Survey (USGS), em 2014, Portugal era a sexta maior fonte de lítio do mundo, com cerca de 17,5 mil toneladas métricas extraídas (com um teor de 1,5% de lítio), e para 2016 as reservas estavam estimadas em 60 mil toneladas métricas.

Segundo o ‘Benchmark Mineral Intelligence’ da Bloomberg, o preço por tonelada métrica quase triplicou em quatro anos, passando de cerca de cinco mil dólares no final de 2013 para quase 14 mil nos últimos meses de 2017 (mais de 11 mil euros às cotação atual). Também um relatório da consultora americana Allied Market Research estima que o mercado mundial de baterias de lítio poderá valer 46 mil milhões de dólares em 2022 (mais de 37 mil milhões de euros). Esta avaliação tem em conta a expansão da produção de carros elétricos por parte de várias marcas nas próximas décadas.

A produção de lítio foi durante anos controlada por oligopólio de três companhias: a Rockwood Lithium, a Sociedade Química y Minera de Chile (SQM) e a FMC Lithium. Em 2015, a Albemarle, com sede nos EUA, comprou a Rockwell aumentando ainda mais a sua posição cimeira. As empresas chinesas Ganfeng e Sichuan Tianqi Lithium também entraram na corrida por este metal precioso.

“A partir de 2015 sentiu-se uma viragem muito forte. Se compararmos o desempenho do lítio e o da platina, associada aos motores tradicionais, é uma forma de comparar a nova e a antiga indústria automóvel. Mesmo na óptica do pequeno investidor há um ETF [produto financeiro complexo, The Global X Lithium & Battery Tech], que participa na cadeia de valor desta indústria, e subiu 63%”, disse Steven Santos, analista do BiG ao Jornal Económico." (in Jornal Economico)

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Petróleo. Gulbenkian negoceia Partex com donos da Lusitânia

"CEFC China Energy terá feito uma oferta pela petrolífera detida pela fundação. Grupo chinês adquiriu seguros do Montepio no ano passado.

A Fundação Calouste Gulbenkian (FCG) recebeu uma oferta de compra para a petrolífera Partex, de que detém atualmente a totalidade do capital. Os interessados, noticia o “Expresso”, são os chineses da CEFC China Energy, com  sede em Xangai e que em novembro do ano passado compraram uma posição maioritária na Lusitânia, a companhia de seguros do Montepio. 

Em comunicado, a Gulbenkian revelou ontem estar “em processo de negociações com o grupo interessado”, garantindo que manterá as atividades filantrópicas da instituição. 

A Fundação revela que “tem vindo a equacionar a alienação dos investimentos nos combustíveis fósseis (que representaram cerca de 18% dos ativos em 2017), tendo em conta uma nova matriz energética e os seus objetivos em prol da sustentabilidade, na linha do movimento internacional” de outras fundações.

Caso haja negócio com a CEFC China Energy – em fase adiantada mas ainda por fechar –, a Gulbenkian diz  que “a recomposição do património continuará, como no passado, a garantir a realização de todas as atividades filantrópicas da instituição que Calouste Gulbenkian quis ver como perpétua e destinada ao bem da humanidade”.

No comunicado, a fundação  relata que “tem recebido, ao longo dos anos, várias manifestações de interesse para a alienação da sua participação na Partex, traduzindo o reconhecimento internacional da qualidade da empresa”. Há pouco tempo, acrescenta, “recebeu uma oferta de compra e encontra-se neste momento em processo de negociações com o grupo interessado. Findo o processo de análise de todas as condições, será tomada uma decisão de acordo com a defesa dos melhores interesses da Fundação”. 

Já em junho de 2017 a fundação liderada por Isabel Mota  revelou que estava a avaliar a entrada de grupos internacionais, com interesses no Médio Oriente, na petrolífera. 

Escala

A FCG  detém 100% do capital da Partex. liderada por António Costa e Silva, que, em entrevista ao “Público” em março do ano passado, revelou que a empresa, em 2016, obteve lucros superiores a 60 milhões de dólares e vendas na ordem de 252 milhões de dólares. No ano anterior tivera prejuízos de 146 milhões de dólares. 

O grupo chinês pretende, segundo o comunicado divulgado, dar escala ao negócio segurador do Montepio. Além disso, haverá uma “cooperação adicional”.

A Partex foi fundada em 1938, por Calouste Gulbenkian, que até então “tinha sido o grande promotor da criação da Iraq Petroleum Company, uma empresa que reuniu os interesses das empresas que hoje se chamam BP, Shell, Total, Exxon Mobil, e onde ficou com 5%, passando a ser conhecido como o “Mister Five Per Cent”. 

Na altura do negócio da Lusitânia, a CEFC revelou que o objetivo era dar escala ao negócio segurador do Montepio e ainda que iria estabelecer a sua sede financeira em Portugal e levar a cabo a cooperação no investimento em diversos campos como o ramo financeiro, imobiliário, infraestrutura, telecomunicações e vinho”. 

O grupo privado chinês foi fundado em 2002 por Ye Jianming, que se mantém como presidente, emprega quase 30 mil pessoas e está centrado nos serviços financeiros e na energia. 

No ano passado a CEFC China Energy adquiriu 14,16% da petrolífera estatal russa Rosfnet por 9,1 mil milhões de dólares." (in SOL)