"O responsável pela empresa refere que está a aguardar pela assinatura formal do contrato de exploração com o Estado. A estratégia da Lusorecursos vai passar pela exploração, aproveitamento, valorização dos produtos secundários resultantes da exploração mineira.
A Lusorecursos está a projectar duas fábricas em Montalegre, uma para processamento de composto de lítio e outra de cerâmica, projectos que devem movimentar cerca de 500 milhões de euros e criar centenas de postos de trabalhos.
O diretor executivo (CEO) da Lusorecursos, Ricardo Pinheiro, disse à agência Lusa que a empresa desenvolveu um plano de negócios para implementar em Sepeda, freguesia de Morgade, concelho de Montalegre, no distrito de Vila Real, onde se prepara para avançar com a exploração de lítio.
O responsável adiantou que a empresa está a aguardar, neste momento, pela assinatura formal do contrato de exploração com o Estado.
Ricardo Pinheiro referiu que a estratégia empresarial para aquele território de Montalegre passa pela exploração, a transformação e o aproveitamento e valorização dos produtos secundários resultantes da exploração mineira.
O responsável explicou que a unidade industrial estará separada em duas fases, sendo que na primeira, no designado concentrador, será feita a separação dos vários minerais que vão sair da exploração.
Depois, numa fase seguinte, na refinaria, será processado o hidróxido de lítio a utilizar nas baterias elétricas.
Ricardo Pinheiro referiu que o investimento nesta unidade industrial “deverá rondar os 450 milhões de euros e criar entre 250 a 300 postos de trabalho”.
O responsável ressalvou que ainda estão a ser feitos estudos técnicos e que o valor final do investimento só será definido posteriormente.
Segundo a Lusorecursos, na área investigada em Sepeda, freguesia de Morgade e Sarraquinhos, as prospeções apontam para um depósito de “30 milhões de toneladas” de lítio. No entanto, a área de concessão é muito superior à investigada.
A restante matéria-prima, como o feldspato, caulino ou outras argilas, irá alimentar uma fábrica de cerâmica, onde serão produzidas “placas de grande dimensão” que poderão ser usadas em revestimentos ou pavimentos, e que, atualmente, segundo frisou Ricardo Pinheiro, “são apenas produzidas em Espanha ou na China”
O responsável destacou “a inovação” associada ao projeto e salientou também a introdução da “técnica de impressão digital”.
“É um projeto de 25 milhões de euros que vai criar cerca de 100 postos de trabalho. Trata-se de uma linha de montagem já no âmbito da indústria 4.0, totalmente automatizada, robotizada, que vai incluir uma equipa de arquitetura e de design”, afirmou.
Segundo adiantou, 80% da produção desta fábrica de cerâmica será destinada à exportação para países árabes e do Extremo Oriente.
Ricardo Pinheiro referiu que a unidade industrial do empreendimento vai ser alimentada energeticamente por uma central de biomassa, que terá uma potência instalada de 10 megawatts, ainda painéis fotovoltaicos e gás natural.
Com vista a ter matéria-prima para alimentar a central de biomassa, a empresa disse que está já a trabalhar com os baldios da região para um maior investimento na reflorestação destas áreas.
De acordo com o plano de negócios, a Lusorecursos prevê investir 20 milhões de euros nesta central e criar à volta de 80 postos de trabalho.
A empresa está também a trabalhar no Estudo de Impacto Ambiental (EIA) que será remetido à Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Ricardo Pinheiro disse que se tudo correr bem, a exploração deve arrancar “em 2020”. “Em 2022, teremos que ter produto acabado para entregar hidróxido de lítio aos compromissos que temos com os nossos clientes”, frisou.
A procura mundial pelo lítio, usado na produção de baterias para automóveis e placas utilizadas no fabrico de eletrodomésticos, está a aumentar e Portugal é reconhecido como um dos países com reservas suficientes para uma exploração comercial economicamente viável." (in Jornal Economico)
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domingo, 17 de março de 2019
sábado, 28 de julho de 2018
Empresa canadiana adquire mais uma licença de exploração de rubis em Moçambique
"A empresa canadiana de mineração Fura Gems anunciou, em comunicado, ter adquirido mais uma licença para a exploração de rubis em Montepuez, Moçambique.
Para adquirir a licença, a Fura Gems irá pagar 381 mil dólares (326 mil euros) à Azores Overseas Inc. e emitir 2,5 milhões de ações em nome desta empresa.
O diretor-executivo da Fura Gems, Dev Shetty, mostrou o seu agrado: "Estamos felizes por consolidar a nossa posição no principal cinto de rubis de Montepuez, distrito de Moçambique", lê-se no comunicado.
"Nos últimos 18 meses, o negócio da Fura cresceu de forma tremenda. Temos dois dos principais depósitos de pedras preciosas no nosso portefólio, esmeraldas da Colômbia, o maior fornecedor de esmeraldas do mundo em valor, e os rubis de Moçambique, o maior fornecedor de rubi por volume", acrescentou.
O distrito de Montepuez contém um dos maiores depósitos conhecidos de rubis no mundo.
Estima-se que a aquisição esteja finalizada no fim de setembro.
A firma tem sede em Toronto, Canadá." (in Sapo)
segunda-feira, 18 de junho de 2018
Entregue relatório de conformidade ambiental para projeto mineiro de Moncorvo
"O relatório de conformidade ambiental para a exploração das minas de ferro na zona do Carvalhal, em Torre de Moncorvo, foi entregue na Direção-Geral de Energia e Geologia, anunciou hoje o presidente da Câmara.
Nuno Gonçalves acrescentou que o Recape (Relatório de Conformidade Ambiental do Projeto de Execução) foi apresentado pela empresa MTI - Ferro de Moncorvo, SA, e reporta-se à área mineira situada nas uniões de freguesias de Felgar/Souto da Velha e Felgueiras/Maçores, bem como nas freguesias de Mós, Carviçais, Larinho, Torre de Moncorvo e Açoreira, no concelho de Torres de Moncorvo, distrito de Bragança.
"O Recape é um documento essencial para se reiniciar a exploração mineira no concelho de Moncorvo. Trata-se de um projeto privado de exploração mineira que tem o seu andamento próprio, mas que se está a cumprir dentro dos prazos o que lhe são exigidos pelo Estado português", explicou à Lusa o autarca social-democrata.
Nuno Gonçalves frisou a Câmara Municipal tem projetos entregues pela MTI para abertura de caminhos e aceiros de acesso aos sítios de exploração mineira, bem como a reabilitação de alguns imóveis de apoio que se encontram no lugar de uma antiga mina, no Carvalhal.
A MTI desenvolveu já trabalhos de prospeção e pesquisa prévios ao abrigo de um contrato de 2008, bem como atividade de exploração experimental no âmbito de outro contrato, este de 2013.
Em novembro 2016, altura em que assinado o contrato definitivo relativo a esta concessão, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, realçou "o empenho colocado pelo Governo para agilizar este projeto", salientando ainda a sua "importância para a região e para o país".
A empresa concessionária da exploração mineira em Torre de Moncorvo espera investir 114 milhões de euros até 2026 e produzir de seis milhões de toneladas de minério nos primeiros cinco anos de laboração.
Segundo a MTI, numa primeira etapa considera-se a criação de mais de 200 postos de trabalho diretos, a que acrescerão mais de 250 nas etapas seguintes. Estima-se ainda a criação de 800 postos de trabalho indiretos.
Para já, ainda não há data concreta, para o arranque da exploração mineira." (in SAPO)
terça-feira, 22 de maio de 2018
Os elefantes da costa Vicentina
"Na Praia do Malhão e noutras praias do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, o Verão costuma trazer milhares de visitantes. Poucos sabem, porém, que esta região já era popular há cem mil anos.
A ilustração recria o habitat por onde se deslocaram elefantes que deixaram na região pegadas datadas de há 35 mil anos. Ilustração e diagrama: Anyforms. Fontes: “Vertebrate tracksites from the Mid-Late Pleistocene eolainites of Portugal: the first record of elephant tracks in Europe”, Carlos Neto de Carvalho (2009) e “Pegadas de vertebrados nos eolianites do Plistocénico Superior do Sudoeste Alentejano, Portugal” Carlos Neto de Carvalho, C. (2011).
Os visitantes de então eram mais robustos, verdadeiros pesos-pesados, mas percorreram os mesmos campos dunares (então mais extensos) que hoje delimitam as praias bravias do Alentejo.
Uma equipa de investigação do Geopark Naturtejo da Meseta Meridional tem trabalhado na região e já publicou a descrição científica de vários trilhos produzidos por animais que hoje seriam exóticos em Portugal ou que se extinguiram recentemente na região por pressão humana sobre os habitats. Os registos variam entre a datação mais antiga (cerca de 100 mil anos) e a mais recente (um pouco menos de 40 mil), testemunhando a variação dramática da distribuição de fauna e flora pela superfície da Terra.
Pegadas de elefante inseridas numa rocha que, curiosamente, tem o formato semelhante a um paquiderme.
Para o paleontólogo Carlos Neto de Carvalho, “as pegadas fossilizadas são úteis para a compreensão da ecologia e do comportamento de grandes mamíferos, que se extinguiram com as dramáticas alterações climáticas que ocorreram no último período glaciário”. Todos os achados concentram-se no campo dunar do Malhão, entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes, o mais extenso afloramento eolianítico contínuo em Portugal.
Na zona do Sudoeste alentejano, foram identificados três trilhos de Elephas antiquus, bem como algumas pegadas isoladas. O elefante que então vivia em Portugal (em cima) teria um volume superior às espécies contemporâneas de paquidermes, como os elefantes africanos e asiáticos (ao centro), mas não se comparava ao mamute (a figura mais corpulenta à direita). Teria presas longas e quase rectilíneas.
A equipa já identificou pegadas de elefante antigo, veado, lebre, raposa, lince-ibérico e possivelmente lobo, para além de trilhos de aves semelhantes a cegonhas ou garças. O achado de três trilhos de elefantes foi o primeiro da Europa continental e poderá representar uma das derradeiras evidências da presença de Elephas antiquus em Portugal, antes da sua extinção na Europa, com a sua passagem aqui há cerca de 35 mil anos.
Pela primeira vez no registo mundial, foram descritas pegadas fossilizadas de lebre.
A descoberta icnológica é importante para compreender as paisagens dunares do litoral alentejano, bem como a fauna existente nos últimos 100 mil anos. “Estes raros achados encontram-se, na sua maioria, em blocos que se soltaram da arriba costeira pela acção erosiva das vagas, correndo o risco de se perderem para sempre”, alerta Carlos Neto de Carvalho. O elevado custo de resgate dos blocos areníticos com pegadas e o volume que a maioria possui implicam a execução de réplicas com resinas duradouras para posterior conservação deste património geológico excepcional.
A equipa de investigadores homenageou a praia do Malhão com o nome Leporidichnites malhaoi. Na imagem, uma panorâmica actual."
(in National Geographic. Texto e Fotografias: Pedro Martins; Ilustração: Anyforms)
segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018
Concessões de lítio decididas em concurso público
"Existem mais de 30 empresas e grupos que querem explorar o lítio em Portugal, mas terão de vencer as concessões em concurso público. Quem criar unidades industriais no país sairá beneficiado.
As diversas empresas, grupos e consórcios interessados na exploração de lítio em Portugal só o poderão fazer se se candidatarem aos concursos públicos, que deverão ser lançados para o efeito durante o presente ano. Essa é a principal alteração imposta pela resolução do Conselho de Ministros sobre esta matéria.
Entre as linhas de orientação estratégica para a fileira nacional do lítio consagradas nessa resolução, destaca-se a “dinamização de concursos públicos para a atribuição de licenças de prospeção e de pesquisa, bem como para a respetiva exploração, sobre áreas previamente delimitadas como relevando potencial e contendo alvos promissores (…)”.
Além de estabelecer regras mais rígidas através da realização destes concursos públicos – até ao momento, as sociedades que pretendiam arrancar com este tipo de explorações mineiras, faziam a respetiva comunicação às autoridades competentes, e aguardavam a respetiva resposta, sendo quase sempre aceites em função da ordem de entrada dos pedidos desde que cumprisse os requisitos legais – esta resolução do Conselho de Ministros estipula que os concorrentes avaliem as oportunidades de instalar em Portugal duas unidades tecnológicas, que poderão mesmo desembocar num investimento mais alargado por parte do(s) promotor(es) privado(s) em unidades produtoras de raiz em Portugal, seja de baterias de lítio, seja da área metalomecânica, por exemplo.
A primeira seria uma unidade experimental minero-metalúrgica, que seria suportada com o objetivo de desenvolver conhecimento e testara tecnologias para toda a cadeia de valorização dos recursos. Pretende-se também constituir uma unidade-piloto de demonstração, “de caráter declaradamente industrial, processando minérios ou concentrados de várias origens e destinada a avaliar os custos de produção em ambiente industrial.
O objetivo é integrar toda a cadeia de valor relacionada com os setores de produção onde é aplicado o lítio. O Governo está neste momento a estudar como irá majorar nos cadernos de encargos dos futuros concursos públicos esta possibilidade de investimento mais alargado, mais duradouro, com a criação de mais postos de trabalho.
Em última instância, o que se pretende é que a grande apetência existente neste momento pelo lítio permita a Portugal fomentar um cluster de atividade industrial, de processamento de minério, de produção nas diversas fileiras industriais que aproveitam este minério, e de I&D – Investigação & Desenvolvimento, de forma a criar mais-valias significativas para a economia nacional a partir desta oportunidade.
De acordo com os dados recolhidos pelo grupo de trabalho do lítio, cujas conclusões foram divulgadas no final do ano passado, existem cerca de uma dezena de locais com maiores probabilidades de rentabilidade de extração do lítio em Portugal, quase todos eles localizados a norte do Tejo.
A crescente atenção dos investidores internacionais para os depósitos nacionais de lítio – são mais de 30 os interessados, entre empresas nacionais e estrangeiras – está a acelerar o processo. Também os decisores estão cada vez mais atentos a este tema. No âmbito da estratégia de reforço da segurança e da independência energética europeia, realiza-se na próxima segunda-feira, dia 12 de fevereiro, em Bruxelas, uma reunião de alto nível com os Estados-membros interessados no desenvolvimento e produção de baterias, nomeadamente as baterias de lítio. Portugal vai fazer-se representar nesta cimeira por Jorge Seguro Sanches, secretário de Estado da Energia.
Na agenda estará a discussão de projetos integrados, assim como a identificação e mobilização dos apoios necessários, em particular os fundos comunitários, para colocar em marcha este projeto, já discutido com várias empresas do Velho Continente. Nesta reunião magna será ainda aprofundado o papel de entidades públicas enquanto facilitadoras, através da criação de quadros regulatórios e não regulatórios para apoiar as medidas necessárias. Será uma oportunidade única para Jorge Seguro Sanches apresentar os seus trunfos com a apresentação da nova estratégia nacional integrada para o setor do lítio.
O “ouro branco” português
A importância deste metal é essencial pela sua utilização nas baterias dos veículos elétricos mas também na sua aplicação em várias indústrias, incluindo a cerâmica e o vidro, os lubrificantes industriais, aplicações médicas, baterias de iões-Li, siderurgia de alumínio, entre muitas outras.
O lítio (do grego ‘lithos’, que significa pedra), é também usado em aplicações industriais como vidro e cerâmica ou ligas metálicas – utilizadas em aeronaves, por exemplo. E mais: é um recurso na energia nuclear, actua como analgésico em operações de risco e marca presença em pastas dentífricas.
De acordo com as estatísticas do United States Geological Survey (USGS), em 2014, Portugal era a sexta maior fonte de lítio do mundo, com cerca de 17,5 mil toneladas métricas extraídas (com um teor de 1,5% de lítio), e para 2016 as reservas estavam estimadas em 60 mil toneladas métricas.
Segundo o ‘Benchmark Mineral Intelligence’ da Bloomberg, o preço por tonelada métrica quase triplicou em quatro anos, passando de cerca de cinco mil dólares no final de 2013 para quase 14 mil nos últimos meses de 2017 (mais de 11 mil euros às cotação atual). Também um relatório da consultora americana Allied Market Research estima que o mercado mundial de baterias de lítio poderá valer 46 mil milhões de dólares em 2022 (mais de 37 mil milhões de euros). Esta avaliação tem em conta a expansão da produção de carros elétricos por parte de várias marcas nas próximas décadas.
A produção de lítio foi durante anos controlada por oligopólio de três companhias: a Rockwood Lithium, a Sociedade Química y Minera de Chile (SQM) e a FMC Lithium. Em 2015, a Albemarle, com sede nos EUA, comprou a Rockwell aumentando ainda mais a sua posição cimeira. As empresas chinesas Ganfeng e Sichuan Tianqi Lithium também entraram na corrida por este metal precioso.
“A partir de 2015 sentiu-se uma viragem muito forte. Se compararmos o desempenho do lítio e o da platina, associada aos motores tradicionais, é uma forma de comparar a nova e a antiga indústria automóvel. Mesmo na óptica do pequeno investidor há um ETF [produto financeiro complexo, The Global X Lithium & Battery Tech], que participa na cadeia de valor desta indústria, e subiu 63%”, disse Steven Santos, analista do BiG ao Jornal Económico." (in Jornal Economico)
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Grupo de Braga quer explorar mina de ouro em Vila Verde
"O grupo Lusorecursos quer "preservar o interesse público e os recursos naturais do país", construindo "um autêntico cluster dos metálicos em Portugal.
O grupo Lusorecursos quer "preservar o interesse público e os recursos naturais do país", construindo "um autêntico cluster dos metálicos em Portugal.
O grupo mineiro Lusorecursos, de Braga, apresentou à Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) um pedido de licença de exploração para uma mina de ouro, em Marrancos, Vila Verde, informou, esta segunda-feira, a empresa.
O pedido de licenciamento, explica um comunicado do grupo, é sequência do contrato de prospeção e pesquisa, para aquela área, assinado entre o grupo e o Estado em 2012. Esta é a mesma empresa que tem um contrato com o Governo para a prospeção e pesquisa de lítio.
“A Lusorecursos, ao apresentar este pedido de licença de exploração para o ouro, assume também o desafio de desenvolver com as autoridades competentes, em particular com o Ministério da Economia, um trabalho para, com as demais empresas do grupo, construir um autêntico cluster dos metálicos em Portugal, suportado nas competências e nos recursos nacionais”, lê-se.
No texto, o grupo aponta ainda que “procura dessa forma preservar o interesse público, os recursos naturais do país e contribuir para que as políticas públicas conduzam a que o valor acrescentado desse recurso fique de facto em Portugal” e “não continue a ser capturado por interesses que não respeitam o país”." (in SAPO)
quarta-feira, 24 de maio de 2017
Analisadas 246 anomalias para comprovar existência de novo kimberlito em Angola
"O levantamento aeromagnético ao projeto Kimangue, empresa comparticipada pelas diamantíferas angolana, Endiama, e russa, Alrosa, está suspenso, depois de descobertas 246 anomalias que têm de ser analisadas para comprovar se a produção é economicamente viável.
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Foto in Sociedada Mineira do Cuango |
A informação foi hoje avançada à imprensa pelo presidente do conselho de administração da Endiama, Carlos Sumbula, no final da assinatura do contrato de investimento do projeto mineiro do Luaxe, presenciada pelo vice-primeiro-ministro da Rússia, Yuri Trutinev, que se encontra de visita a Angola.
Trata-se de um investimento de cerca de 15 milhões de euros, para a prospeção de novos kimberlitos (depósitos de diamantes), nos próximos três anos, através da empresa Kimangue, participada por ambas.
Segundo Carlos Sumbula, foram realizados levantamentos aeromagnéticos com helicópteros para a descoberta de novas minas, tendo o balanço dessas atividades na província da Lunda Norte sido realizado na sexta-feira passada.
"E vimos que com a atividade do Kimangue, nós descobrimos 246 anomalias e vamos suspender os levantamentos aeromagnéticos, com o helicóptero, e vamos entrar para a segunda fase, que é ir verificar essas anomalias para ver se elas correspondem ou não a kimberlitos economicamente viáveis", explicou.
Carlos Sumbula manifestou-se esperançoso que entre as 246 anomalias detetadas, pelo menos haja um kimberlito para exploração economicamente viável.
"Devo dizer que temos grandes esperanças de descobrirmos kimberlitos na região da Lunda Norte porque nós fizemos correlações entre 2010/2012, que determinaram que no subsolo angolano há muitos kimberlitos por descobrir", avançou.
Acrescentou que na província da Lunda Norte, na região do Cuango, pretende-se verificar "onde se encontra o kimberlito que deu origem aos diamantes aluvionares do Cuango".
"Sabem que temos uma mina aluvionar do Cuango e temos estado a explorar essa mina há vários anos, mas onde está a origem a esses diamantes aluvionares, o Kimangue anda à procura desse kimberlito e nós pensamos que das 246 anomalias apresentadas, na sexta-feira passada, provavelmente deve estar aí o kimberlito que deu origem aos diamantes aluvionares do Cuango", disse.
Angola apenas conhece o potencial de produção diamantífera de 40% do território nacional, explicou anteriormente à agência Lusa Carlos Sumbula.
"Quer dizer que a probabilidade de encontrarmos recursos mineiros nos restantes 60% é elevada", realçou." (in SAPO)
segunda-feira, 1 de maio de 2017
O lítio pode ser a energia do futuro - e há abundância em Portugal
"O século XX foi o século do petróleo, suporte da
transformação da humanidade no fim do milénio. Mas o petróleo tem o fim
anunciado. Abundante em Portugal, será o lítio o “petróleo” do futuro no nosso
país?

Nos quase cem quilómetros quadrados do jazigo de
Gonçalo-Seixo Amarelo, os filões de mica litinífera destacam-se como riscos
brancos na rocha.
A aparência faz lembrar o chumbo e a consistência macia,
que permite cortá-lo com uma faca, intriga ainda mais. O lítio é um metal que…
flutua. Tem cerca de metade da densidade da água e foi gerado no Big Bang,
juntamente com o hidrogénio e o hélio.
Há muito que entrou na nossa vida. Demos por ele nos
equipamentos electrónicos portáteis, mas foi a revolução energética dos
automóveis que o trouxe para a ribalta. Portugal é o quinto maior produtor
mundial deste metal. A instalação em Aveiro de uma fábrica de baterias de lítio
da Renault-Nissan alimentou o debate sobre um modelo de desenvolvimento
associado à exploração de lítio. A relação parece óbvia (e sedutora), entre a
localização da fábrica e a riqueza do subsolo nacional, mas as aparências
iludem. O lítio existente em Portugal é usado sobretudo na indústria da
cerâmica e não tem aplicação directa no fabrico de baterias. “O país tem recursos
minerais de lítio, que são compostos naturais, mas não são carbonatos de
lítio”, explica Machado Leite, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia
(LNEG). Ora, é precisamente em forma de carbonato que o lítio serve para as
baterias.
Além dos jazigos minerais de espodumena, petalite,
ambligonite e lepidolite, como no caso português, o lítio também pode ser
extraído de lagos salgados, nomeadamente dos Himalaia e dos Andes (Chile,
Argentina e Bolívia). É aliás neste triângulo andino que se concentram 75% das
reservas conhecidas. O salar de Atacama faz do Chile o maior produtor, e o
salar de Uyuni, na Bolívia, ainda por explorar, é o maior depósito do mundo. Na
imprensa da especialidade, o lago Uyuni tem sido comparado a Ghawar, o
megacampo petrolífero da Arábia Saudita.
Porém, é mais fácil obter carbonato de lítio (Li2CO3) a
partir dos lagos salgados do que do minério arrancado às minas. O processo é
semelhante ao da extracção do sal marinho. A água destes lagos, que contém
entre 200 e 400 ppm (partes por milhão) de lítio, é bombeada para tanques de
evaporação, onde o lítio se concentra, normalmente em forma de cloreto (LiCl).
Depois é transformado em carbonato por electrólise, purificado e
comercializado.
Descoberto em 1817, o lítio foi isolado pelo inglês
Humphry Davy através da electrólise, um método ainda usado para obter lítio
puro. Começou a ser utilizado comercialmente em 1923 na cerâmica e na medicina,
tornando-se depois essencial na aeronáutica e na electrónica.
A trituração e dissolução do minério dos nossos jazigos
para produzir Li2CO3 para as baterias é, portanto, mais difícil e mais cara. A
Direcção-Geral de Geologia e Energia (DGGE) já manifestou até o seu cepticismo
quanto à futura utilização nas baterias de automóveis, embora esta matéria não
seja consensual.
Numa coisa, porém, há acordo: o lítio tem importância
estratégica e as implicações geopolíticas são fulcrais. Imagine um mundo
dependente de lítio e não de petróleo e portanto concentrado na América do Sul,
onde a Bolívia faria o papel da Arábia Saudita…
O imaginário romântico do trabalho mineiro com uma
multidão de operários a arrancar o minério às entranhas da terra desvanece-se
ao chegar à maior mina portuguesa de lítio, na zona de Gonçalo (Guarda). Três
homens (uma escavadora e dois camiões) são suficientes, pelo menos nesta fase
do trabalho, para roer a encosta, onde se destacam nitidamente as faixas
claras, mescladas de lilás, dos filões de pegmatite.
Queimado, o nitrato de lítio produz uma característica
chama vermelha.
O minério segue para a fábrica, quase toda automatizada,
de onde saem 27 produtos distintos. Cada um obedece a critérios de normalização
de teor de lítio e possui uma ficha técnica e um certificado. “A nossa
actividade é a produção de matérias-primas para a cerâmica, particularmente
feldspatos”, diz Rui Vide, geólogo e administrador da Felmica. “O lítio tem a
particularidade de ser um bom fundente.” Ao baixar o ponto de fusão das pastas,
reduz o consumo de energia nas fábricas de cerâmica. Neste contexto, não é
visto como um produto em separado.
Com uma produção de 30 mil toneladas anuais, a Felmica
movimenta 85% do minério de lítio em Portugal. Vocacionada para a indústria da
cerâmica, a empresa encara com prudência a agitação em torno das baterias. Falta
apurar a viabilidade económica. Ainda assim, desde 2008 que são feitas reservas
de concentrados de lítio a pensar neste tipo de negócio.
Os jazigos portugueses são conhecidos há quase um século.
Com uma produção de 30 mil toneladas anuais, a Felmica
movimenta 85% do minério de lítio em Portugal.
A Felmica tem avaliadas reservas de dois milhões de
toneladas de minérios de lítio e o potencial pode chegar a dez milhões,
considerando a espodumena, a petalite e a lepidolite. Há estudos do LNEG para a
produção de Li2CO3 a partir de lepidolite e outros minerais. Mas haverá
condições para uma indústria de compostos de lítio? “Está nos nossos
horizontes. Com um parceiro ou sozinhos, vendendo o minério isoladamente ou
tratando-o, todas as alternativas estão em aberto”, diz Rui Vide.
O mapa assinala as seis principais ocorrências de lítio
em Portugal: 1. Serra de Arga; 2. Covas do Barroso; 3. Barca d’Alva; 4. Guarda;
5. Mangualde; 6. Segura. NGM-P. Fonte:Laboratório Nacional de Energia e
Geologia.
A energia que alimenta o universo é produzida por fusão
nuclear, fonte da vida na Terra e das energias que usamos, sejam as fósseis,
armazenadas ao longo de milhões de anos, sejam as renováveis. E se
conseguíssemos uma máquina que reproduzisse uma fracção do Sol para utilizar
aquela energia? Teríamos uma fonte de energia limpa (sem emissão de gases com
efeito de estufa), praticamente inesgotável (os “combustíveis” são a água e o
lítio) e segura (a palavra mágica). Mas a recriação na Terra das condições das
estrelas não é fácil, sobretudo devido às temperaturas de 100 milhões de graus
Celsius que é preciso atingir.
A Europa lidera a investigação sobre a fusão nuclear e
Portugal tem um papel de relevo. Carlos Varandas, do Instituto de Plasmas e
Fusão Nuclear, é o actual presidente do conselho de administração da Agência
Europeia para o Reactor Internacional Experimental Termonuclear (ITER, na sigla
anglófona). Os cientistas portugueses lideram a investigação em duas áreas: a
reflectometria de microondas, cuja responsável europeia é Maria Emília Manso, e
a instrumentação digital para controlo e aquisição de dados.
O tokamak JET (Joint
European Torus), no Reino Unido, já obteve reacções de fusão nuclear, embora
sem ganho de energia.
No Instituto Superior Técnico, o tokamak ISTTOK é usado
para desenvolver técnicas de diagnóstico e de controlo e operação de máquinas
de fusão nuclear, depois ensaiadas em máquinas europeias de maior dimensão. Os
cientistas portugueses lideram a investigação em duas áreas deste domínio
científico e tecnológico, que poderá transformar o lítio na principal fonte
energética do mundo.
O próximo passo é a construção no Sul de França do ITER,
o primeiro reactor experimental de fusão nuclear. O tokamak deverá demonstrar a
viabilidade científica e técnica da fusão nuclear enquanto tecnologia
energética e utilizará todas as tecnologias necessárias para o funcionamento de
um reactor de fusão. A fusão nuclear é feita entre dois isótopos do hidrogénio,
o deutério e o trítio. O deutério obtém-se da água e o trítio, um material
radioactivo de vida curta (12 anos), produz-se a partir do lítio, dentro do
próprio reactor de fusão. “Numa reacção de fusão deutério-trítio, gera-se um
neutrão que, ao reagir com o lítio, produz trítio”, explica Carlos Varandas.
“Portanto, se no interior da câmara de um reactor de fusão houver uma camada de
lítio, chamada blanket (camada fértil), esse lítio vai produzir, através das
reacções com os neutrões, o trítio necessário para alimentar o reactor.”
Carlos Varandas acredita que na segunda metade deste
século os reactores de fusão nuclear estarão disponíveis, podendo solucionar o
problema energético global. Estudos sugerem que o preço do KW/h produzido numa
central de fusão será idêntico ao de uma central hidroeléctrica, o que o
tornaria competitivo. Além disso, as reservas de lítio para uso na fusão
nuclear dariam para 30 mil anos, um período suficiente para encontrar outras
soluções energéticas e reorganizar o nosso modo de vida." (in National Geographic Portugal - Texto
e Fotografia: Carlos Franco)
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017
Fósseis de quando a Península Ibérica era equatorial
"Na região de São Pedro da Cova, na Bacia Carbonífera do Douro, a equipa do paleontólogo Pedro Correia, do Instituto de Ciências da Terra da Universidade do Porto, encontrou duas novas espécies de plantas fossilizadas – Ilfeldia gregoriensis e Lesleya iberiensis – correspondentes à idade do Gzheliano (Carbonífero superior), há cerca de 303 milhões de anos.

Um exemplar da nova espécie Ilfeldia gregoriensis depositado no Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.
As duas espécies ajudam a reconstituir a paisagem deste território na transição do Carbonífero para o Pérmico, pois são floras características de climas secos e áridos. A segunda, aliás, corresponde à primeira ocorrência do género Lesleya no maciço ibérico, provando que esta megaflora também crescia em ambientes montanhosos ripícolas. As jazidas de São Pedro da Cova, no concelho de Gondomar, são uma das áreas portuguesas mais ricas em fósseis de plantas extintas, ajudando a compreender melhor um período em que a Península Ibérica se encontrava situada numa zona equatorial, ou seja, em clima tropical e húmido.
Os novos fósseis de plantas juntam-se a outras descobertas de fósseis de insectos, igualmente descritos recentemente. Os trabalhos vão continuar, não apenas nesta região, “mas também noutras áreas da Bacia Carbonífera do Douro”, diz Pedro Correia." (in National Geographic. Fotografia João Nunes da Silva. Fonte “Lesleya Lesquereux from the Pennsylvanian of the Iberian Massif: part of a dryland megaflora from the Variscan orogen, northwestern Portugal” (2016), Pedro Correia et al.)
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
Ciência dá vida à povoação alentejana do Lousal depois de fecho das minas
"Para a povoação alentejana do Lousal, o centro Ciência Viva instalado na antiga mina significa uma razão para continuar a ir a uma terra no fim de uma estrada e que passa agora fazer parte dum circuito de turismo científico.
Os 20 centros Ciência Viva do país são os pontos de referência de um guia que assinala outras atrações turísticas, alojamento e hotelaria, com descontos para quem queira conhecer o país partindo de disciplinas científicas como a biologia, a geologia ou a astronomia.
Desde 2010 no Lousal, o centro instalado no complexo da antiga mina de pirites, fechada em 1988, vive da história da atividade mineira e parte daí para dar aos visitantes experiências no domínio da química, geologia, física e ambiente.
Pode ainda ver-se a lagoa de águas ácidas que é drenada e purificada através de um sistema de piscinas em que são usadas plantas como os líquenes para extrair os metais pesados e uma galeria escavada na encosta onde antes se guardavam milhares de quilos de dinamite.
“Se não fosse isto, tínhamos aqui nada, zero”, disse à agência Lusa o mineiro José Pacheco, que assistiu em 1988 ao último dia de laboração da mina que durante décadas sustentou as centenas de famílias do Lousal.
Recordou que foi “muito triste”, sobretudo “numa zona tão carenciada de trabalho”, perderem-se de uma vez cerca de 600 postos de trabalho.
A explosão da atividade mineira deu-se em 1936, quando começou a ser explorada pela empresa belga SAPEC, e durante cinquenta anos saíram dos poços da mina, com cerca de 500 metros de profundidade, pirites das quais se extraía enxofre usado para produzir ácido sulfúrico e adubos.
A explosão da atividade mineira deu-se em 1936, quando começou a ser explorada pela empresa belga SAPEC, e durante cinquenta anos saíram dos poços da mina, com cerca de 500 metros de profundidade, pirites das quais se extraía enxofre usado para produzir ácido sulfúrico e adubos.
A generalização da extração em minas de enxofre e a entrada da China no mercado fizeram com que o processo deixasse de ser rentável, por isso a laboração no Lousal parou, com o fim anunciado em 1987.
Junto ao relógio que na central elétrica do museu mineiro está para sempre parado nas 15:30, hora a que a última máquina deixou de funcionar, José Pacheco assinala que o centro é “uma fonte de postos de trabalho e uma mais-valia” para a terra.
Na mina trabalhava-se antes dos 18 anos nas oficinas, à superfície, mas aos 18 o destino era o poço, em ambientes que chegam aos 50 graus centígrados.
“Crescemos todos à força”, afirmou, lembrando que com o fim da exploração de pirites, a terra ficou sem vida e o caminho foi arranjar emprego em outros lados. Os que ficaram e eram velhos demais para mudar “morreram de tristeza”, disse.
A luz, água e habitação eram fornecidas pela mina mas “os salários eram miseráveis”. Para José Pacheco, o fim da mineração no Lousal acabou por ser uma oportunidade de ir ganhar mais em Neves Corvo, de onde se reformará daqui a dois meses.
Hoje, “é uma alegria” olhar para “os autocarros cheios de pessoal” e as excursões escolares que passam pelo centro e descobrem, visitando o museu e a galeria que está aberta para visitas, como trabalharam duas ou três gerações de alentejanos, incluindo o pai e o avô de José Pacheco.
Aberto em 2010, o museu acabou por revitalizar uma povoação que no pico da atividade mineira chegou a ter quase dois mil habitantes, mas que hoje em dia tem cerca de 700.
Como nos outros centros Ciência Viva do país, os circuitos recomendam outros pontos de interesse em redor, que no caso do Lousal são a experimentação agrícola na herdade Aberta Nova, o Museu da Ruralidade, o lagar de azeite Oliveira da Serra ou a praia da Galé.
A ideia, disse à Lusa a diretora da Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, Rosalia Vargas é “conhecer melhor Portugal de um ponto de vista cultural, social, económico ou patrimonial”.
Com um cartão que se compra por 50 euros, um guia e uma aplicação para telemóvel criada pela empresa Vodafone, há mais de 200 etapas nos circuitos, com entrada gratuita em todos os centros e descontos em restaurantes, hotéis e outros parceiros de uma lista com mais de cem serviços.
A secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Fernanda Rollo, disse à Lusa que o turismo científico é uma área a desenvolver, indicando que “já há pessoas a fazê-lo embora sem o designar dessa maneira”.
“É importante que as pessoas não olhem para o conhecimento e a ciência como uma coisa distante”, e que a sociedade “tome consciência de que lhe pertencem”, afirmou." (in SAPO)
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
Cientistas portugueses desvendam o mistério das flores do Cretácico
"Darwin chamou-lhe o abominável mistério: como surgiram as plantas com flor no Cretácico? Um projecto português junta pistas para responder.
Dois dos três investigadores do projecto ANGIOGAL escavam afincadamente em Rio de Mouro neste escaldante mês de Julho. Pela estrada que serpenteia entre urbanizações nesta freguesia dos subúrbios de Lisboa, passam veículos ocasionais. Os tripulantes pasmam, sem excepção, com os dois vultos que, de picareta na mão e suando em bica, descascam o barranco argiloso. Não valeria a pena explicar-lhes que se trata de uma campanha paleontológica ou que, no coração de Rio de Mouro, está acessível uma das camadas mais importantes do Cretácico. Ninguém acreditaria, de qualquer maneira. E, no entanto, João Pais, da Universidade Nova de Lisboa (UNL), e Mário Mendes, docente da Universidade de Évora (UE), retiram freneticamente blocos rectangulares de argila, datados de há cerca de 130 milhões de anos, um dos intervalos mais quentes da vida no Cretácico, durante a qual as temperaturas elevadas cobriram os pólos de vegetação, permitindo que espécies de dinossauros ali afluíssem. Na verdade, os dois investigadores pro-curam pistas para solucionar um mistério da evolução, formulado pelo evolucionista dos evolucionistas, Charles Darwin, em 1879. E talvez estejam um pouco mais próximos da solução.
Acima: Coloridas artificialmente e ampliadas, estas imagens microscópicas dão conta do exuberante mundo vegetal que despontou no Cretácico. Pólenes e sistemas de reprodução de várias espécies têm sido descobertos em jazidas portuguesas, ao abrigo do projecto ANGIOGAL. Imagens microscópicas cedidas pelo Projecto ANGIOGAL.
Estamos num laboratório da Universidade Nova de Lisboa, no Monte de Caparica. Passamos apressadamente por cartazes que anunciam o GSI, programa educativo de Geologia sob Investigação, tentativa gloriosa do Departamento de Ciências da Terra para cativar alunos para a ciência dos solos e da evolução da Terra. Os blocos de argila de jazidas como as de Rio de Mouro já foram lavados, secos numa estufa a 30ºC, transformados numa papa e lavados num crivo com malha de 0,125mm. Restam pequenos fragmentos carbonosos, imperceptíveis a olho nu, mas com material potencialmente novo para a ciência.
Na verdade, a paleobotânica deu um salto qualitativo à medida que a tecnologia forneceu ferramentas para analisar os micro e mesorrestos fossilizados. No passado, coubera aos paleontólogos a tarefa de discernir o lugar evolutivo dos macrorrestos na árvore genealógica das plantas. João Pais, por exemplo, doutorou-se em 1982 em paleobotânica com uma tese sobre macro e microrrestos do Miocénico (entre 23 e 5 milhões de anos), uma inovação para a época, tornada possível pelos então potentes microscópios ópticos. Hoje, investigadores como Mário Mendes trabalham habilmente com microscópios electrónicos, de ampliações inimagináveis. E concentram-se nos pólenes, os grãos produzidos pelas flores das angiospérmicas, que ajudam a perceber o sistema reprodutor das plantas. Cunhou-se até um novo nome para esta ciência, a palinologia, que lida principalmente com esporos e pólenes de plantas e quistos de dinoflagelados.

Estampa de Gaston de Saporta sobre a flora fóssil do Mesozóico de Portugal. Flore Fossile du Portugal, Gaston de Saporta. colecção particular de João Pais.
À lupa binocular, Mário Mendes procura separar os minúsculos resíduos do que foi em tempos material vegetal do Cretácico. Usa um pincel de pêlo de marta para este trabalho minucioso e que pode, no fim de contas, levar apenas à conclusão de que a amostra não possuía material relevante. Não por acaso, na parede do laboratório está afixada a figura do mestre Yoda, de “A Guerra das Estrelas”, exortação discreta das virtudes da paciência e perseverança, principais ferramentas no arsenal do palinólogo.
Os níveis cretácicos de Portugal são importantes para a investigação da origem das angiospérmicas, uma vez que aqui estão representados os “depósitos da idade certa”, como refere João Pais. Na zona centro de Portugal, existem várias jazidas com depósitos de fases essenciais para a resolução desta equação evolutiva. Todos os andares do Cretácico Inferior estão cá representados. Aliás, na década de 1980, a abertura de novas estradas gerou janelas temporais de acesso a estratos limpos destes períodos, permitindo colher muito material a quem tivesse os óculos certos para o contemplar. Else Marie Friis, paleontóloga sueca, foi uma das investigadoras que rumou ao nosso país para fazer colheitas nestes estratos, que resultariam na publicação de vários artigos sobre novas espécies de sementes, frutos e pólenes.

Uma história aos repelões: A actividade polinizadora dos insectos do Cretácico Inferior contribuiu para o sucesso das angiospérmicas.
Quase duas décadas depois, ao tomar a decisão de investigar as angiospérmicas do Cretácico Inferior no seu doutoramento, Mário Mendes sabia que existia uma porta na Suécia à qual poderia bater para receber informação sobre o estado da arte. Não se enganou. Foi recebido no Museu Sueco de História Natural por Friis e, regressado a Portugal, direccionou algumas campanhas para novas jazidas. Apareceram novos materiais, embora, como refira o investigador de Évora, “nestas idades, com estas características, estamos na fase em que quase tudo o que aparece é novo”.
Nasceu em simultâneo o projecto ANGIOGAL, uma parceria da UNL, da UE e da Universidade de Coimbra (esta, através de Jorge Dinis, do Instituto do Mar). O objectivo é ambicioso: estabelecer a paleoecologia das angiospérmicas, definindo em que ambientes viviam estas plantas e em que climas sobreviviam.
A dificuldade é evidente: as plantas com flor eram minoritárias nesta fase da vida na Terra e escasseiam no registo sedimentar, o que obriga a equipa do projecto a campanhas como a de Rio de Mouro, sem perspectiva garantida de sucesso. A recompensa, porém, é satisfatória: boa parte das descobertas são inéditas e já deram origem à publicação de quatro artigos científicos, identificando duas novas espécies, um novo género e uma descoberta improvável: o pólen e o sistema que o gerou no mesmo registo.
O que podemos aprender com a evolução das plantas com flor? Enquanto folheia páginas da obra pioneira de Gaston de Saporta sobre a flora fóssil de Portugal, João Pais enuncia algumas lições: “Estas plantas surgiram numa fase muito quente da vida no planeta. Adaptaram-se. Dão informação sobre o ambiente daquela altura, permitindo reconstituir a paisagem em que se inseriam. E fornecem ainda informação sobre ‘truques’ anatómicos: como faziam para não perder a preciosa água, por exemplo. São um repositório valioso de informação.”

Tétrada de pólenes recolhida no Juncal. Imagem microscópica cedida pelo Projecto ANGIOGAL.
Aos comandos da potente microscópico electrónico do Centro Hércules da Universidade de Évora, Mário Mendes documenta a fase derradeira do trabalho que começou no campo, de picareta na mão. No ecrã, reflectem-se algumas estruturas enigmáticas. Assemelham-se a crateras lunares, frutos exóticos, aglomerados de grãos de café. Na verdade, assistimos a uma galeria de pólenes de várias novas espécies. Realista, o palinólogo duvida que todo o abominável mistério de Darwin se resolva com estes achados. “As plantas com flor não surgiram do nada. Indubitavelmente, terá de existir uma relação filogenética com outros grupos de vegetais preexistentes.” Quais? Não se sabe. “As relações entre grupos vegetais extintos são ainda mais difíceis de resolver”, continua Mário Mendes. “Parece-me existir ainda um longo caminho no puzzle da evolução. Possivelmente, os estudos com base nos dados provenientes da sequenciação do DNA possibilitarão alguns avanços nesta área”, permitindo estabelecer laços de familiaridade entre as espécies já descobertas e as suas contemporâneas. Mas será um trabalho moroso e de paciência.
Bem a propósito, a poucas horas da conclusão desta reportagem, Mário Mendes enviou uma mensagem de correio electrónico com a actualização das análises do material recolhido em Rio de Mouro: “As amostras têm-se revelado algo pobres”, escreveu. “Até ao momento, ainda não apareceu nada com interesse.”
De volta ao campo, portanto.
Adenda: O Professor João Pais faleceu em 2016."
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
Existiu vida em Marte? A resposta pode estar mais perto do que nunca
"Investigadores do MIT desenvolveram uma nova técnica de análise de sedimentos que pode facilitar a descoberta de indícios de vida ancestral em Marte. A técnica vai ser aplicada às amostras recolhidas pelo veículo todo-o-terreno que será enviado para o planeta vermelho em 2020.
A nova metodologia de análise vai permitir que o Mars Rover da NASA possa identificar sedimentos praticamente inalterados na superfície marciana. Com a recolha destas amostras, os cientistas do Massachusetts Institute of Technology (MIT) estão confiantes de que vão conseguir dar resposta a uma das perguntas que mais tem atormentado a comunidade científica nas últimas décadas: existiu ou não vida em Marte?
O MIT diz que esta nova forma de anáise de sedimentos não é invasiva, é mais eficaz e vai permitir identificar materiais rochosos que não foram alvo de erosão intensa e prolongada. Quanto menos alteradas estiverem as amostras, mais fidedigna é a imagem conseguida das condições ancestrais do planeta e maior é a probabilidade de descobrir indícios de vida microbiológica – a existir.
Segundo as informações divulgadas pela instituição, esta nova técnica é uma forma inovadora de analisar os resultados obtidos pela espectroscopia de Raman, um método não invasivo utilizado por geólogos para estudar a composição química de rochas antigas.
A ferramenta SHERLOC (Scanning Habitable Environments with Raman and Luminescence for Organics and Chemicals) vai fazer parte do arsenal tecnológico do todo-o-terreno marciano e vai permitir ao veículo robótico recolher amostras sedimentares e rochosas na superfície do planeta, ou imediatamente abaixo da superfície, que não apresentem sinais significativos de transformações geológicas. O MIT diz que a tecnologia SHERLOC será a pedra angular da investigação de indícios de vida em Marte.
Roger Summons, professor no MIT, afirma que os resultados fornecidos pelas atuais técnicas de espetroscopia de Raman são um pouco “confusos”. Por seu lado, Nicola Ferraris, uma das investigadoras da instituição, descobriu uma nova forma de “olhar” para os resultados obtidos, e permite que cientistas possam reinterpretar os resultados da espetroscopia de Raman e chegar a conclusões novas e mais precisas, que podem mesmo levar à descoberta de vestígios de vida ancestral em Marte." (in SAPO)
terça-feira, 16 de agosto de 2016
Laboratório para preparação de fósseis em Moçambique concluído com ajuda de Portugal
"O primeiro laboratório de preparação de fósseis de Moçambique está concluído e a formação de jovens cientistas nessa área foi realizada em instituições portuguesas no âmbito do projeto PalNiassa, disse hoje um dos integrantes daquele programa.
"Este projeto científico inovador foi iniciado por paleontólogos portugueses com apoio do Museu Nacional de Geologia de Maputo, e tem como objetivo preservar o património paleontológico do território moçambicano, através da formação de cientistas moçambicanos, da descoberta de novos fósseis e da criação de um laboratório de preparação de fósseis", referiu em comunicado o paleontólogo Ricardo Araújo.
Segundo aquele responsável, o novo laboratório, localizado em Marracuene, nos arredores da capital moçambicana, "possui instalações e equipamentos de ponta, os quais servirão para preparar os inúmeros fósseis de crânios e esqueletos quase completos de animais que viveram em solo moçambicano há mais de 250 milhões de anos". " (in SAPO)
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