Devia ser Novembro quando ao passar de carro por uma das areas menos nobres de Dar es Salaam dei com um grande ajuntamento de pessoas num incomum frenezim. O meu motorista disse-me na altura que alguem teria sido identificado a roubar e que o castigo estava a ser aplicado. Ninguem chamou a policia. Aqui a policia nao serve para estes casos. Nesta parte do mundo, o castigo remete para a morte do deliquente no seguimento de uma especie de julgamento popular, em que justica e sentenca sao aplicados no momento. Na verdade, nao ha julgamento algum, so a sentenca. Devo dizer que isto nao foi nada que me tenha chocado mas tambem apenas me recordo da euforia de uma multidao anonima. Em ultima analise, nao vi nada de extraordinario.
Hoje de manha um sujeito roubou uma mota e arrancou com ela a alta velocidade por uma rua fora. Uns quantos individuos assitiram ao delito e lancaram-se numa perseguicao que terminou perto de minha casa, quando o perseguido cometeu um erro e caiu da mota ao fazer uma curva. Ninguem chamou a policia. Aqui a policia nao serve para estes casos. As pessoas correm e comecam a juntar-se. Trazem paus, catanas e outros tantos objectos apanhados a pressa. O ajuntamento popular caminha em numeros para uma pequena multidao ate que fumo e chamas comecam a romper o cerco. Faz-se uma clareira no centro do frenezim e no meio do que resta da borracha de pneus ardidos jaz um corpo desprovido de vida, queimado e fumegante. A multidao dispersa e eu posso finalmente percorrer a pequena distancia que me separa de casa.
Por fim, a policia chega. Nao ha muito para dizer. Aqui a policia nao serve para estes casos.
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