A nossa chegada é sorrateira e cautelosa. O jipe diminui drasticamente a velocidade por um trilho de areia que se inicia pedregoso, desenhando-se até a uma pequena povoação que só mais tarde me apercebo que está deserta. Trata-se de uma autêntica cidade fantasma. A população havia abandonado o oásis há cerca de 20 ou 30 anos atrás devido à descida do nível freático, que tornou mais difícil a sobrevivência naquele local. O jipe continua a rolar pelo empedrado e evita o horizonte de areia decorado com palmeiras, virando para norte em direcção ao cume do maciço rochoso. Após curvas e contracurvas trepando pela rocha que se avizinha cada vez mais crua, somos forçados a parar, ainda muito longe do cume mas a uma altura considerável da base, de onde é possível ter a devida panorâmica do local. O lago parece-me uma extensa meia-lua repleta de cristais de sal, com umas palmeiras semi-despidas a enfeitar o limite do que resta da água. No entanto, abrindo melhor a pestana que estava um bocado pregada nesse dia e aligeirando ainda mais o humor que também não era o mais famoso, descubro passo a passo e pouco a pouco, a beleza invulgar deste oásis no deserto. Estou rodeado por areia em todas as direcções por largas dezenas de quilómetros e este local é um misto de verde palmeira, água e relevo rochoso.
É sem duvida uma grande quebra na monotonia, que acaba por ser realmente quebrada quando avistamos ao longe uma caravana de quatro ou cinco jipes com destino semelhante ao nosso. Tendo em conta que não estamos assim tão longe da fronteira com o Chade poderiam tratar-se de perigosos traficantes de qualquer coisa ou apenas de uma patrulha do exército (a patrulhar qualquer coisa). Num ou noutro caso, e confiantes que estaríamos na presença das mais ilustres e simpáticas visitas, a nossa reacção foi enfiarmo-nos novamente no jipe e descer para o extenso mar de palmeiras onde á partida teríamos uma certa cobertura e poderíamos admirar mais de perto as palmeiras, o lago, as tâmaras e tudo o demais. Minutos mais tarde avistamos um dos jipes da dita caravana que passa por nós repleto de turistas alemães sorridentes, a viver o sonho do sahara. Os ocupantes do jipe seguinte não partilham o mesmo estado de euforia: enquanto que um senhor de meia-idade acelera a fundo o jipe, ficando cada vez mais enterrado na areia, a sua esposa tenta cavar a areia e empurrar o veículo sem o mais pequeno sucesso. O senhor teima em acelerar a fundo, o que deixa a primeira bastante agastada (ela verbaliza aliás coisas que suponho que fossem pouco agradáveis). Isto dura alguns minutos, deixando finalmente de ter graça, e lá resolvemos ajudar os senhores a retirar o chassis da areia e a esvaziar um pouco os pneus. Depois, de duas ou três tentativas o jipe arranca pouco a pouco e depois a toda a velocidade, deixando porém a cansada turista para trás, para uma pequena caminhada até terreno mais firme.
Despedimo-nos e entramos também nós no nosso jipe, fazendo uma última paragem no posto de turismo deste oásis, que até é bem catita, com umas palhotas engraçadíssimas em torno de um telheiro. Este é também o mote para o nosso regresso ao rig, que afinal ainda não estava no local e me deixaria com mais uns dois dias livres.