[Embora já tenha assistido a esta operação no passado, ocorrem-me sempre nestes momentos algumas interrogações retóricas acerca do como este fluido sujo e gorduroso possa ser a vitalidade da civilização e se encontrar logo aqui, debaixo deste triste e solitário deserto, quase esquecido. Vivemos com esta energia fóssil numa simbiose na qual somos nós os parasitas e, no entanto, é amplamente sabido que na natureza, poucos são os parasitas que sobrevivem à morte do hospedeiro. As consequências do anunciado esgotamento desta energia já se estão a sentir mas continua a ser preferido o debate de ideias à implementação de acções. Ocorre-me também que o senhor Bush afinal não deve ser assim tão parvo como o pintam, apesar dos muitos comentários sem nexo (e estúpidos vá) que produz. Ao fim ao cabo, anda mais de meio mundo a aumentar a extracção do petróleo, já que o barril nunca foi vendido a tão alto preço, enquanto que os amigos dos USA fazem uns quantos furos que asseguram o seu consumo interno. O resto da sua reserva está por explorar. E o futuro é já amanhã. Talvez ainda seja possivel amplificar a produção das ditas energias alternativas. Ou esperar mais tempo para ver o que realmente acontece. Ou produzir um motor movido a água salgada (...ou a bananas). Ou... sei lá. Mas sei que o petróleo vai acabar um dia e que o relógio não pára.]
Apesar de possuir ideias algo concretas, mas raramente estáticas, acerca do petróleo enquanto alimento de uma civilização dependente e esfomeada por energia, não consigo deixar de me apoderar deste brilho que escorre do calcário no interior do tubo. O brilho forte e o odor inebriante afinal de contas são o poder e o sucesso. Apesar de se ter atingido um pequeno reservatório, olho à minha volta e há um deserto quieto a acordar, que se estende até onde a minha vista alcança, em todas as direcções, e muito mais além. Devo ter sorrido de ironia. O que está debaixo dele é que conta. Tudo o resto não deve interessar para nada. Tudo está bem e até me lembro de uma música do SG, de dias felizes e vou-me embora com um brilhosinho nos olhos. Passa das 9h e a noite foi longa e trabalhosa. Vou dormir. Já devo é de estar cansado.
O core à superficie, no momento em que foi aberto.