segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Mina de Sal Gema em Loule: Campina de Cima C-17

 
O Algarve e' um excelente destino para passeios fora de epoca estival. Neste periodo do ano ha bom tempo sem que se produza um calor abrasador e nao ha - sobretudo - a molhada de gente que se muda da cidade para ir a banhos. A semana anterior ao Natal foi, tal como no ano passado, alvo de passeios pela Serra Algarvia, incluindo ate um roteiro de interesse geologico-mineiro que ficara frustrado no ano anterior: a mina de sal gema de Loulé.
A mina situa-se na freguesia de S. Clemente, concelho de Loulé, distrito de Faro e denomina-se Campina de Cima C-17.
Trata-se de uma exploração mineira gerida pelo Grupo CUF desde 1964, numa altura em que se utilizava o sal proveniente desta mina para a indústria química. Desde 2004, o sal aqui extraído servia apenas para a utilização nas estradas para combater o degelo e para a indústria das rações. Uma diminuição na produção que levou a que o Grupo pensasse numa forma de rentabilizar o espaço ao invez da sua completa desactivacao.
 
Em 2009 noticiava-se a ideia de criar um Centro de Recepção e Interpretação na Mina, um espaço único e inovador em Portugal que consistiria na instalação de um hotel dentro das galerias subterrâneas, um museu, um storage e ainda zonas de lazer e culturais. A CUF surgia como promotora do projecto e angariadora de investidores para financiar este empreendimento e a parceira Câmara Municipal de Loulé revelava entao o objectivo de fazer da Mina de Sal Gema um pólo turístico e cultural da região. 'A data, a noticia foi acolhida com alguma pompa e circunstancia e circulou o esboco do projecto que inclui ate a preservacao da actual torre de acesso a mina (imagem ao lado, in cbarq.pt).
Ora, logo 'a chegada, facilmente se constata que este plano nao se concretizou. Aparentemente, procedeu-se a desactivacao do espaco e infelizmente hoje em dia este nem pode ser visitado, salvo em certos eventos especificos.

Da mina extraia-se minério de sal-gema proveniente dum diapiro com estrutura em domo. Este diapriro de Loulé encontra-se localizado a SW da Península Ibérica e é de pequenas dimensões, a espessura ronda os 800m e os flancos conferem-lhe um contorno elíptico. O eixo do anticlinal está orientado WSW – ENE e encontra-se controlado estruturalmente por uma grande falha (Aproximadamente E-W). Analogamente, existem, no Algarve, os diapiros de Faro, Tunes, Moncarapacho e Santa Bárbara de Nexe, pertencendo todos ao Complexo Evaporítico da Bacia Algarvia, uma província geológica de idade Mesozóica. Estratigraficamente, os complexos evaporíticos existentes fazem a passagem dos materiais Mesozóicos, para a Base Hercínica. Estes fenómenos ocorrem a W e S de Portugal Continental, correspondendo respectivamente às Bacias Lusitâniana e Algarvia. O diapiro encontra-se encaixado em rochas do tipo calcários, margas e dolomitos de idade Jurássica (Caloviano, Kimeridgiano - Oxfordiano, Kimeridgiano). À superfície encontramos as Areias de Faro-Quarteira do Plistocénico, sobrejacentes ao diapiro.
Segundo Manuppela (1988) o fenómeno de diapirismo iniciou-se no Jurássico inferior (Dogger). Actualmente, o minério é datado de 300 Ma (+-10 Ma), que equivale ao período Carbónico. O domo salino formou-se através de um fenómeno de halocinese, que consiste na ascensão do material salífero sob a forma de um rolhão gigantesco, proveniente das unidades superiores dos Arenitos de Silves. Esta ascensão deu-se preferencialmente através de falhas de direcção EW. Em simultâneo, ocorreu possivelmente, a actuação de forças tectónicas de carácter compressivo, favorecendo a ascensão deste material que contrasta quanto à sua densidade e plasticidade com a do material encaixante. Este episódio constituiu a segunda fase de deformação (Terrinha, 1989).
O material, provavelmente, não atingiu a superfície, uma vez que na mina, o seu cap-rock, de composição essencialmente gipsífera, se encontra preservado. Este cap-rock que se
encontra nos bordos e no topo do diapiro não possibilita a passagem de água dos aquíferos para a massa de sal, evitando assim a sua dissolução (Terrinha ,1989).

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