Terminei o arrumar da mochila já muito tarde e, ainda por fim, imprimi os mapas. Deu mais trabalho do que esperava mas estava preparado: tenda, saco-cama, bússola e tudo o mais encaixado numa mochila que me parecia demasiado pesada. Agora já não sobrava muito tempo para dormir mas tanto pior. Depois de três horas na cama estava eu a madrugar para estar presente no ponto de encontro às seis da manhã.
O contorno a pé da albufeira da barragem do Alqueva, avaliado em noventa e cinco quilómetros, fora bem planeado mas não era esperado fácil. No entanto, e apesar das previsões de possível mau tempo, lá fomos nós para o que seriam quatro dias de caminhada.
Saímos de Lisboa e apontámos o carro na direcção de Reguengos de Monsaraz, que seria o início e fim do trajecto. Chegámos naquela sexta-feira santa ainda com a população a acordar e com o céu muito carregado de nuvens escuras. Procurámos sítio para pequeno-almoço e encontrámos uma padaria e um café já abertos. Neste ultimo, depois de curto repasto e com a moral em alta fez-se tempo de pôr a mochila às costas e começar a andar. O plano para o primeiro dia consistia em sair de Reguengos em direcção a Alqueva, com paragens em São Marcos do Campo e Amieira. A pernoita seria em local incerto, dependendo do progresso, possivelmente algures a chegar a Alqueva.
Contudo o tempo não ajudou. A passada ia larga, apesar do peso nas costas, mas ao chegar a São Marcos do Campo, apenas a dez quilómetros da partida, a chuva começou a cair bem. Abrigámo-nos no café da terra por meia hora e decidimos voltar para trás quando apanhámos uma aberta – as nuvens que aí vinham não prometiam coisa boa.
Assim foi; fizemos o caminho inverso e, após alguns ciclos de secagem e molhagem, alcançámos novamente o carro. Para não dar o dia como perdido, e como ainda íamos a tempo, decidimos ir almoçar a Monsaraz, a cerca de quinze quilómetros de Reguengos. Pelo caminho a chuva intensificou ao ponto de se tornar num enorme temporal e aí o praguejar tornou-se a palavra de ordem, visando em especial os meteorologistas que previam uns possíveis aguaceiros para a data.
O almoço acalmou os ânimos e o vinho aqueceu o corpo. Apesar de não me ter deliciado com as famosas migas é dada a nota máxima para a gastronomia da região – a qualidade é contudo proporcional ao preço.
A tempestade lá fora amainou e foi finalmente possível contemplar a grande albufeira que nos tínhamos proposto circundar. Do topo do castelo vislumbra-se água quase por todas as direcções. Descemos finalmente à albufeira onde a chuva volta e se intensifica novamente. Voltamos a Lisboa, com a promessa de cumprir o percurso traçado numa outra ocasião.