Volto a Libia de novo. Percorro mais uma vez os caminhos do passado e que ja conheco quase de olhos fechados. As surpresas por vezes tambem nao sao as melhores por isso ha que reconhecer que seguir o plano do costume nao e assim tao mau. O aviao e os aeroportos sao os mesmos e vale-me viajar acompanhado por um amigo, o que aligeira bastante o tempo morto e a fadiga. Em Tripoli, visito mais uma vez a medina. A diversidade e azafama clamam por uma fotografia mas ha tanto que ja foi visto e revisto. Tento estar atento aos pormenores deste labirinto, por entre uma multidao que vende e compra ou que apenas passa. Os contornos das ruas estreitas, as mercadorias, as cores vivas, os sons muitas vezes imperceptiveis, esta tudo la, de resto, como dantes.
E tempo de partir. Viajo a noite de jipe em direccao ao deserto por algumas horas, para a zona de Ghani, cerca de 100 km a Norte de Zelden, onde passo quatro dias no meio de um meio completamente arabe, sem a companhia de qualquer outro nao-africano, portanto hostil ao entrosamento pessoal. O deserto e poeirento e o vento nao ajuda a vida exterior. Quase nao saio do local de trabalho ou do meu quarto. A comida e pessima e os horarios terriveis. 4 dias passaram. Viajo novamente de volta a Tripoli de jipe. Paro numa pequena povoacao a cerca de 220 km a Este de Tripoli para jantar. Vale a pena recordar. Voltei a saber o que era comida a serio e a saida fotografo surpreendido uma igreja aqui perdida, atras de uma gasolineira e quase contigua a uma mesquita. Curioso. E a primeira igreja que vejo neste pais. Possivelmente sera uma remanescencia da ocupacao italiana.
Chego a Tripoli e e tempo de partir novamente. Apanho o helicoptero e volto a plataforma offshore onde agora me encontro e onde ja estive este ano. Inicio o dia de trabalho com o sol a por-se e termino-o quando ele ja vai alto. O trabalho continua no dia seguinte. Para me recordar tenho ja na memoria os cardumes de pequenos peixes que por aqui passam, os grandes atuns que os perseguem, os golfinhos mais ao largo, a tartaruga que vi a fugir da confusao, a invasao de borboletas que durou uma noite. O resto, a falta de tudo o mais, e trabalho.
Viajar novamente e assim tudo o que me falta agora, de preferencia com destino a Portugal, o que ainda vai demorar o seu certo tempo. Por isso, nada de pressas. Alguem disse que a vida e uma dadiva, por isso e que se deve viver o presente. Nao poderia concordar mais. Um dia a seguir ao outro.
As cores e os cheiros da Medina de Tripoli. A igreja perdida no deserto, atras da gasolineira. O nascer do sol de cada dia.